Rodoviária. Ponto de ônibus. Metrô. Aeroporto... Podemos concordar que estes espaços fazem parte do nosso dia a dia, afinal, nossa migração e dispersão pelo mundo dependem de passarmos por eles, correto? Entretanto, não criamos nenhum tipo de identidade com estes espaços, pois não há tempo ou necessidade para desenvolver essa relação. Quer dizer, será que não há necessidade?
Faço essa provocação para chegarmos ao conceito de não-lugar, cunhado na década de 90 pelo antropólogo francês Marc Augé. Resumidamente, os não-lugares são espaços transitórios, ditos “lugares de passagem”, com os quais não criamos relações de identidade. Em sua perspectiva, Augé nota uma tendência cada vez maior em deixarmos de dar significado aos espaços e as coisas, de maneira que os locais públicos mais movimentados, onde as pessoas se concentram em maior número, consequentemente tornam-se menos valorizados. Estes espaços, que são de todos e, ao mesmo tempo, de ninguém, são o que podemos chamar de não-lugares contemporâneos (como o aeroporto, metrô, praças e etc).
Apesar de os não-lugares serem uma realidade, há quem faça, ou tente fazer deles um lugar de fato, recheado de significados, histórias e, principalmente, estabelecendo uma relação de identidade tão particular que não apenas salta aos olhos e ouvidos de quem está ao redor, como também tem o potencial de inspirar o ambiente, fazendo com que esse não-lugar – frio, neutro e insípido – possa ser resignificado, de acordo com a percepção de cada um que transita por ali. Parece bacana? Essa é a conclusão que tiramos do Playing for a Pocket Change, web-serie documental de 10 episódios sobre músicos do metrô de Nova York. São vídeos curtos, entre 5 e 9 minutos, que investigam quem são esses artistas a priori renegados pelas pessoas através da dinâmica do não-lugar, e qual a motivação deles para levar boa música a esses lugares, em troca de contribuição espontânea. O resultado é surpreendente.
O projeto não é exatamente novo (2010), todavia a reflexão se mantém bastante atual: o que nós levamos e deixamos dos (não) lugares pelos quais transitamos diariamente? Como isso tem impactado o mood da nossa vida? Você pára e presta atenção no trabalho do artista de rua? E, principalmente, no que mudaria o senso coletivo de cidadania e de mundo se os não-lugares fossem, de alguma forma, habitados e munidos de diferentes significados? Talvez um pouco de boa a música ajude a pensar:
Belo texto, cara. Gostei! Abraços.
ResponderExcluirParabéns Emannuel, muito bom texto.
ResponderExcluirRealmente é fantástico ver como essa cultura de artistas de rua é mais valorizada em outros países, Europeus por exemplo.
Há algum tempo atrás vi alguns Russos tocando música clássica nas ruas de Colônia na Alemanha... Estava com um casal de músicos no momento e só porque eles viram o quanto talento havia li, parei e ouvi.
Semanas depois estava assisitindo um filme famoso (A culpa é das estrelas) e lá estava a mesma banda sendo filmada nas ruas de Amsterdam, agora para um mundo de especatadores.
Fica aqui a dica para todos valorizarem estes talentos, financeiramente se possível!