Vez ou outra irei deixar aqui um guia para os apaixonados por música que queiram saber mais sobre um gênero específico, descobrir novos sons ou simplesmente lembrar de clássicos que fazem parte da história do pop rock. Hoje, nosso tema é o Britpop.
Há 20 anos atrás, dois discos que definiram a cena do "Britpop" foram lançados: Parklife, do Blur e Definitely Maybe, do Oasis. Tais álbuns eram dois lados de uma mesma moeda: de um lado, a sagacidade, hiper-referencialidade, ironia e estilo dos garotos de classe média alta representados pelo Blur, e a psicodelia drogadita com aspirações rock star junto a uma postura de durões e arrogantes garotos da classe industrial que eram personificadas pelo Oasis.
XTC - Season Cycle (1986)
Parece estranho destacar primeiro uma música de 1986 como parte do Britpop (um movimento que só ia aparecer com força quase 10 anos depois), mas muito da psicodelia britânica aos moldes sessentistas que iria voltar com tudo mais adiante já era a marca dos discos do XTC nos anos 80. A banda era uma espécie de outkast em meio aos sintetizadores e glamour da New Wave ou à postura anti-conservadora e experimental do pós-punk. O XTC eram os caras bem abastados, cheios de referências artísticas e bom gosto que faziam música pop que não poderia sair de outro lugar que não da Inglaterra, mais ou menos como o Blur também o faria, uma década depois.
Os Stone Roses foram a principal banda a sair da breve cena do "Madchester"- uma tendência que fundia guitar pop com a cultura rave da dance-music e do uso de drogas -, mas, curiosamente, seu único LP flerta pouco com o dance. O que sobra é muita psicodelia - e riffs memoráveis de guitarras. Apesar de ter sido lançada anos antes do boom britpop, She Bangs The Drums é um exemplo clássico do estilo: os riffs nos levam de volta aos tempos da British Invasion (The Who, Stones, Beatles), e o ritmo tem a pegada colorida e neo-psicodélica que povoava o acid house, mas que daria depois o tom de muitos dos hinos britpop.
Ride - Twisterella (1992)
Outro microgênero que iria influenciar muito o Britpop foi o Shoegaze: o uso de camadas e camadas de guitarras mergulhadas em reverb e efeito de pedal, deixando o som mais atmosférico ao contrapor melodia e peso. O Ride foi uma das bandas que ajudou a consolidar o shoegaze com o disco Nowhere, de 1990, mas que já em seu lançamento seguinte iria trilhar caminhos mais ensolarados e pop com Going Blank Again (1992). Twisterella tem uma produção impecável e um riff bem pegajoso: bastante parecido com coisas que viriam depois como Digsy's Dinner do Oasis.
Suede - The Drowners (1992)
O Suede foi um daqueles casos de super-hiper-mega hype da imprensa inglesa, sendo a primeira grande banda do Britpop a aparecer com força na rotação das rádios e nas capas de revista durante todo o ano de 92. O disco homônimo do grupo subiu ao primeiro lugar das paradas na semana de seu lançamento, sendo o disco de estreia de uma banda inglesa com a vendagem mais rápida desde o Frankie Goes To Hollywood, 10 anos antes. Brett Anderson era um showman nato, uma espécie de mistura de David Bowie e Morrissey, cheio de ambiguidade sexual e carisma. E, ao mesmo tempo, a banda tinha um jeito peculiar de mostrar sua britanicidade, como disse um review da Rolling Stone na época: "O Suede representa tudo que os antigos pop stars britânicos eram: irritantes, desconcertantes, mas acima de tudo convincentes".
Blur - To The End (1994)
Há 20 anos atrás, dois discos que definiram a cena do "Britpop" foram lançados: Parklife, do Blur e Definitely Maybe, do Oasis. Tais álbuns eram dois lados de uma mesma moeda: de um lado, a sagacidade, hiper-referencialidade, ironia e estilo dos garotos de classe média alta representados pelo Blur, e a psicodelia drogadita com aspirações rock star junto a uma postura de durões e arrogantes garotos da classe industrial que eram personificadas pelo Oasis.
De forma geral, ambos seguiram o caminho aberto pelos Stone Roses na virada dos anos 80 para os 90, e encabeçavam uma sensação de otimismo que veio da dissolução da era Thatcher e do partido conservador no poder: era o movimento Cool Brittania, que renovava um sentimento de orgulho por ser britânico. Não é por acaso que as bandas dessa época abraçavam os áureos anos 60 - quando a British Invasion guiou a cultura mundial -, como referência de estilo: os mods (Supergrass), o pub rock (Oasis) ou o estilo blasè e arrogante da Swinging London (Pulp) são bons exemplos.
XTC - Season Cycle (1986)
Parece estranho destacar primeiro uma música de 1986 como parte do Britpop (um movimento que só ia aparecer com força quase 10 anos depois), mas muito da psicodelia britânica aos moldes sessentistas que iria voltar com tudo mais adiante já era a marca dos discos do XTC nos anos 80. A banda era uma espécie de outkast em meio aos sintetizadores e glamour da New Wave ou à postura anti-conservadora e experimental do pós-punk. O XTC eram os caras bem abastados, cheios de referências artísticas e bom gosto que faziam música pop que não poderia sair de outro lugar que não da Inglaterra, mais ou menos como o Blur também o faria, uma década depois.
The Stone Roses - She Bangs The Drums (1989)
Os Stone Roses foram a principal banda a sair da breve cena do "Madchester"- uma tendência que fundia guitar pop com a cultura rave da dance-music e do uso de drogas -, mas, curiosamente, seu único LP flerta pouco com o dance. O que sobra é muita psicodelia - e riffs memoráveis de guitarras. Apesar de ter sido lançada anos antes do boom britpop, She Bangs The Drums é um exemplo clássico do estilo: os riffs nos levam de volta aos tempos da British Invasion (The Who, Stones, Beatles), e o ritmo tem a pegada colorida e neo-psicodélica que povoava o acid house, mas que daria depois o tom de muitos dos hinos britpop.
Ride - Twisterella (1992)
Outro microgênero que iria influenciar muito o Britpop foi o Shoegaze: o uso de camadas e camadas de guitarras mergulhadas em reverb e efeito de pedal, deixando o som mais atmosférico ao contrapor melodia e peso. O Ride foi uma das bandas que ajudou a consolidar o shoegaze com o disco Nowhere, de 1990, mas que já em seu lançamento seguinte iria trilhar caminhos mais ensolarados e pop com Going Blank Again (1992). Twisterella tem uma produção impecável e um riff bem pegajoso: bastante parecido com coisas que viriam depois como Digsy's Dinner do Oasis.
Suede - The Drowners (1992)
O Suede foi um daqueles casos de super-hiper-mega hype da imprensa inglesa, sendo a primeira grande banda do Britpop a aparecer com força na rotação das rádios e nas capas de revista durante todo o ano de 92. O disco homônimo do grupo subiu ao primeiro lugar das paradas na semana de seu lançamento, sendo o disco de estreia de uma banda inglesa com a vendagem mais rápida desde o Frankie Goes To Hollywood, 10 anos antes. Brett Anderson era um showman nato, uma espécie de mistura de David Bowie e Morrissey, cheio de ambiguidade sexual e carisma. E, ao mesmo tempo, a banda tinha um jeito peculiar de mostrar sua britanicidade, como disse um review da Rolling Stone na época: "O Suede representa tudo que os antigos pop stars britânicos eram: irritantes, desconcertantes, mas acima de tudo convincentes".
Blur - To The End (1994)
Em 94 o Blur já tinha tentado o shoegaze no disco Leisure de 92 e uma espécie de psicodelia pop-avant-garde em Modern Life Is Rubbish, de 93. Ambos foram no máximo medíocres, tanto no que diz respeito à crítica quanto a vendagem. Mas aí veio o a grande cartada de Damon Albarn: Parklife, de 1994, é para muitos "o" disco do Britpop: um sucesso quase unânime de crítica e público. É um disco cheio de referências, que transita entre gêneros com doses iguais de bom humor, melancolia e inteligência. "To The End" é um exemplo claro de uma banda que sabe muito de música: uma balada meio chanson française deslumbrante, adulta, com a languidez que marca o estilo blase próprio de uma das faces do gênero, melhor personificada ainda pelo Pulp.
Oasis - Some Might Say (1995)
Na humilde opinião deste que vos escreve, este é o maior hino do britpop: uma música positivamente transcendente, com uma grandiosidade quase majestosa. O Oasis nunca foi uma banda musicalmente brilhante: suas canções tinham tantos elementos emprestados de artistas do passado que muitas podiam ser facilmente acusadas de plagiarismo. Mas uma coisa era fato, Noel Gallagher sabia como ninguém fazer músicas que mobilizam legiões de fãs e cantar cada um de seus versos com todo o corpo e alma. Essa foi talvez a maior delas.
Supergrass - Caught By The Fuzz (1995)
O Supergrass era a mais divertida das bandas do Britpop. Uma espécie de filhos bastardos dos Kinks com os Buzzcocks e com o glam rock, seu disco de estreia não tinha a ambição e a perspicácia do Blur e nem os flertes psicodélicos do Oasis. Era rock'n roll honesto, acelerado, dançante e sem firulas. I Should Coco tem músicas que raramente passam dos dois minutos e meio e seu senso de urgência e descontração tem a ver com seu significado cultural na época: foi o primeiro disco "adolescente" do Britpop, e o álbum é até hoje tido como um exemplo musical do sentimento de liberdade da adolescência.
Radiohead - The Bends (1995)
Por motivos histórico-geográficos, resolvi incluir o Radiohead nessa lista, mesmo que o estilo de Thom Yorke, Johnny Greenwood e companhia nos tempos áureos de Britpop tenham mais paralelos com o grunge e rock alternativo norte-americano que com seus pares britânicos. O Radiohead tinha uma postura um tanto antagônica quanto ao estrelato e ao glamour de ter muitos fãs e realizar longas turnês, postura essa que era o exato oposto do hedonismo exacerbado que marcava as outras bandas britânicas da época, como era bem exemplificado na rixa Blur x Oasis (quem seria a grande banda do ano? quem levaria mais pessoas aos estádios?). Enquanto o Cool Brittania exaltava o estilo de vida inglês e o desejo de ser rock star, Thom Yorke mergulhava cada vez mais no pessimismo e paranóia que culminaria em Ok Computer, de 1997.
Super Furry Animals - The Man Don't Give a Fuck (1996)
Os galeses do Super Furry Animals eram os esquisitões do Britpop na época: os riffs e otimismo estavam ali, mas a banda tinha uma irreverência non-sense psicodélica que não encontrava pares dentre os ingleses. Enquanto o Blur e o Pulp encarnavam um estilo cool e intelectual, e Oasis, Supergrass e Verve eram os moleques de classe operária, os Super Furry Animals tinham um estilo único de aliar inteligência com bom humor e engajamento. The Man Don't Give a Fuck foi a música de "protesto" da banda, que ao samplear o verso "You know they don't give a fuck about anybody else" de uma música do Steely Dan e repeti-lo 55 vezes ao longo da canção - quebrando o recorde do uso de "fuck" numa música -, deu ainda mais significado a sua intenção de não se adequar a normas e seguir seu próprio caminho dentro desse espectro do Britpop.
Pulp - This Is Hardcore (1998)
Todo gênero que marca uma época eventualmente se dissipa, e com o Britpop isso já começou praticamente dois anos depois de seu auge, em 97, à partir de discos marcados pelo excesso: seja o de drogas e luxúria como Be Here Now, do Oasis; de floreios artísticos, como The Great Escape, do Blur; ou até mesmo de arrogância, como em Urban Hymns, do The Verve.
O Pulp, talvez a mais "artsy" de todas as bandas do Britpop, conquistou as paradas em 1995 com Different Class e o single Common People, um dos grandes hinos da época. Seu disco subsequente, This Is Hardcore (1998), vai totalmente na contramão do otimismo do anterior. Assombrado por decepção e medo, é um disco que mesmo em seus momentos mais grudentos ainda possui uns sutis toques de escuridão. A faixa título atesta o cansaço dos excessos hedonistas que vieram com o sucesso: sua atmosfera lounge, seção de cordas cinematográfica e a letra brilhante de Jarvis Cocker criam um assustador monumento à decadência do Britpop.
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